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Já alguma vez paraste para pensar no que fomos? Estávamos destinados ou só acontecemos? Sempre pensei que estivéssemos destinados. Desde o momento em que te olhei pela primeira vez. Eras apenas um miúdo e eu nem tinha ainda idade para pensar direito por mim. Não o percebi, claro, mas acho que o senti. Acho que sempre houve aquele fio que nos ligava, de uma maneira muito especial. Talvez o destino tenha olhado para nos e pensado "estes foram feitos um para o outro!" e nos tenha criado o desafio de perceber isso. Mas porque nos prega o destino rasteiras? Porque cria ele desafios demasiado difíceis de ultrapassar? Depois de nos termos finalmente apercebido da existência do nosso fio, foi-nos dado o novo desafio de o deixarmos intacto. Cada um puxava para o seu lado, que pareciam lados cada vez mais distantes um do outro. A distância parecia aumentar e a força de cada lado aumentava proporcionalmente, forçando demasiado, e com o tempo, a corda foi-se gastando. Até que chegou o momento de exaustão, e o fio cedeu, rompendo com ele o nosso destino. Talvez devêssemos ter levado isso como um sinal, mas não. Decidimos ignorar o que estava bem escondido. Nenhum de nós parecia querer parar de fazer força, e abdicar do nosso cordão, então, quando a distância entre nós cessou por uns momentos, aproveitámos esse tempo para recompor o que tínhamos quebrado, e resolvemos dar um nó ao nosso fio rompido. Ele pareceu-nos intacto por algum tempo. Tínhamos escondido bem os destroços. Mas com o passar do tempo começamos a apercerbemo-nos do que estávamos a fazer. Forçar o nosso destino gasto com um nó tão esfarrapado. Resolveste antes de mim largar a corda, e deixaste-me à toa, sem saber porque razão tinha deixado de sentir força do outro lado... Quando percebi larguei imediatamente a minha ponta, como se me tivesse dado um choque elétrico. Arrependi-me no momento a seguir, mas sempre que a tentava apanhar do chão imundo, levava mais um choque que me impedia. Devia ser o destino a impedir-me de fazer outra asneira. Pois do outro lado da corda encontrava-se apenas o silêncio de um vazio ultrapassado. A corda permaneceu então abandonada, ainda que com algumas visitas inúteis de uma das pontas insistente, resultando apenas de mais vazio, e de mais silêncio. O nó permanece lá, a unir os dois lados, à espera que algum dos dois tenha a coragem de finalmente o desatar. Mas o destino, ainda que cansado e fracassado, continua com uma certa esperança que os dois lados se voltem a encontrar no lugar do nó, e o substituam por um entrelaçar de dedos, para sempre inseparável.
O tempo passa por mim, cada vez mais depressa, mas parece que só serve para nos afastar ainda mais. Todos a minha volta estão a tropeçar na mesma teia que eu tropecei, e eu continuo presa, a ver o tempo a passar. Ele passa e passa, a uma velocidade que me faz piscar os olhos, eu tento agarra-lo para o tentar abrandar e conseguir acompanhar o seu passo, mas é o mesmo que tentar agarrar fumo. Tu passas por mim a mesma velocidade que o tempo. E da mesma maneira fracasso em tentar alcançar-te. Com um piscar de olhos já não lá estás, escondido por entre a névoa, mas, mais um piscar e o teu vulto regressa, para me gozar, para troçar da maneira como teimosamente ainda te tento alcançar, mas falho redondamente de cada vez. Troçar de como eu tão inutilmente continuo a tentar agarrar o fumo, e tu já ultrapassaste o momento, já seguiste em frente, já paraste de tentar o inútil.